Um dia, um dos moradores de Fortuna de Minas
olhou para o céu, para as árvores, e percebeu que estavam vazios. Ficou em
silêncio, mas não ouviu o canto dos pássaros que gostava de escutar desde
pequeno. Os trinca-ferros, papa-capina e canários da terra não voavam mais por
lá.
Eles haviam sido caçados ou aprisionados em
gaiolas. O gerente de agência Washington Moreira Filho não se conformou.
Queria, de novo, ouvir o canto dos pássaros e começou a abrir as gaiolas. “O
meu sonho inicial era ver essa praça cheia de canários”, relata.
Há quatro anos, Washington Moreira Filho
resolveu que já era hora de realizar seu sonho. Começou, então, uma campanha
para convencer os moradores de Fortuna de Minas a abrir as gaiolas. “Não foi
tão difícil assim convencer o pessoal na época, porque parece que todos já
tinham essa ideia. Deu-se a entender que todos tinham a mesma ideia, porque foi
um casamento perfeito”, explica o gerente.
A cada mês, um morador se juntava a Washington
e abria as gaiolas, como o carpinteiro José de Morais, conhecido como Seu Zé,
de 85 anos, que chegou a ter 18 passarinhos presos.
A oficina de marcenaria do Seu Zé funciona há 40
anos em Fortuna de Minas. E tudo permanece praticamente igual. Ou melhor, quase
tudo. O Seu Zé, por exemplo, não fabrica mais essas armadilhas que eram usados
para capturar as aves silvestres, aves que saiam da cidade para dentro das
gaiolas.
Com a ajuda dos moradores, passarinhos estão
por toda parte. Os mais numerosos são os canários da terra, ou canários
chapinha, que tinham desaparecido. Os machos são mais amarelinhos que as
fêmeas. Agora, eles já se misturam a outros pássaros comuns na região, como o
joão-de-barro, pica-pau, beija-flor.
E não é que a cidade, além do canto dos
pássaros, ganhou outra alternativa de renda com o comércio de casas
pré-fabricadas para passarinho. Um grupo de artesãos passou a construir ninhos
para vender. São iguais aos do joão-de-barro. Os canarinhos adoram se hospedar
neles.