Eco News entrevistou uma bióloga. Uma experiência maravilhosa e que trouxe várias aprendizagens.
Com a palavra, a bióloga.
Veja trechos da entrevista, com Liana, bióloga do Jardim Botânico.
Eco News: Por que você se interessou por ecologia?
Liana Lima: Eu desde pequena sempre quis trabalhar com os animais, na verdade eu queria ser veterinária. Quando eu tinha seis anos eu falei pra minha mãe que queria ser veterinária, cuidar de animais de grande porte, animais silvestres. Porém, não foi bem assim. Não consegui passar no vestibular público e acabou que fui para uma faculdade particular fazer biologia, e vi que biologia é muito mais legal que veterinária. Minha área é mesmo essa, essa é minha paixão mesmo, pela natureza, ajudar a conservar o que a gente tem. O Brasil e o Rio de Janeiro, que são tão ricos em biodiversidade, então eu só batalho aí.
Eco News: Há quantos anos você trabalha com biologia?
Liana Lima: Então, eu entrei na faculdade em 2007, no primeiro semestre, me formei agora em 2011 no último semestre, no final do ano e estou cinco anos nisso aí. Desde que eu entrei eu trabalhei em algumas áreas da biologia. A primeira foi herbários e agora com plantas, plantas medicinais Depois eu trabalhei na minha faculdade mesmo, com a alimentação de peixe, e depois com Bagre do Guapimirim. E após trabalhei com taxidermia, que é empalhar bicho, dissecar... Montagem de ossos e depois eu vim aqui para o Jardim.
Eco News: O que você faz aqui?
Liana Lima: Assim eu trabalho com macacos, com aqueles saguis, com micos-estrela, a minha vida é a Primatologia, primatologia para quem não sabe é o estudo dos macacos, primatas. Nós somos os primatas humanos e eles primatas não-humanos. E eu fiz um intercâmbio para Portugal para poder me especializar nessa área, de Primatologia e Estudo do comportamento, que eu trabalho sobre o comportamento social dos macacos, do que eles fazem, como se interagem, ao mesmo tempo o que eles comem, por onde andar, onde dormem...
Eco News: Que conselho você dá para quem quer ser bióloga?
Liana Lima: Então, eu sou suspeita para falar, porque eu amo muito o que eu faço, sou completamente apaixonada por biologia e que eu não faria outra coisa. Então meu conselho é que a pessoa nunca vá fazer a faculdade forçada, porque assim é muito difícil, tem que estudar muito, não é biologia do ensino médio, é bem mais difícil, é mais complexo. E assim, aqui no Rio de Janeiro o campo não é muito aberto, você fala que é Biólogo, as pessoas perguntam se é professor, e eu tenho que explicar que eu sou pesquisadora. E aqui a gente estuda a fauna, a gente estuda a conservação da fauna do daqui onde eu trabalho, assim os animais chegam aqui a gente cuida até ele ficar bom e voltar para a natureza, então é um trabalho para a gente, e é muito recompensante, então quem quiser ir na área eu recomendo ir fundo, porque depois tem que ter muito amor para continuar. Porque até os campos, as pessoas tem muita dificuldade, porque o governo não dá muito investimento.
Eco News: Você tem certa dificuldade quando estudava biologia?
Liana Lima: Dificuldade só de achar estágio remunerado, e essa dificuldade até hoje depois de formada. E tem pessoas que ainda tem mais, mas na minha área é ainda mais difícil trabalhar com animal de grande porte. E as pessoas não dão muito valor, elas dizem “Ah vai trabalhar com plantinha, com bichinho.” E acha que não é nada, mas não é assim, eu acho que é o emprego mais importante, que o mundo mais precisa é o biólogo, para mim o biólogo é mais importante que qualquer outra profissão porque cuida do meio ambiente que cuida da vida e a vida engloba tudo. E agora que esta chegando a moda de ser sustentável, e eu espero que de uma força para os estudantes que estão por aí. E a única dificuldade, eu acho que é a pressão psicológica, muitos trabalhos, muitas matérias.
Eco News: Você pode contar um pouco da sua história na Europa?
Liana Lima: Eu fiz duas matérias por lá, uma foi primatologia que estuda primatas do mundo inteiro e biologia do comportamento, que é o comportamento animal deles, é bem focado pra isso. Bom, pra mim foi experiência única de vida. Para quem nunca tinha viajado de avião e saído do rio de Janeiro e ir direto para Portugal direto foi incrível. Eu fui muito bem recebida lá, eu fui sozinha. A faculdade tem toda uma estrutura pra quem vai fazer intercâmbio, e foi um máximo pra mim de experiência na área em parte teórica.
Eco News: Porque não pode alimentar os animais?
Liana Lima: Não pode alimentar porque são espécies exóticas, não são do nosso bioma, eles se reproduzem muito rápido, eles são muito generalistas adaptáveis, então tudo o que dão para comer eles irão aceitar. A principal refeição deles é a goma, é como uma seiva bruta que tem na árvore. A segunda refeição seriam os insetos, e banana é uma fruta exótica, não é do Brasil, que nem a Jaca, não é do Brasil. E não se pode alimentar porque se você for lá e der um biscoito, e esse biscoito além de possuir muito açúcar, e ele estiver mordido e a pessoa que mordeu estiver resfriada ou até mesmo com herpes, poderá aumentar a glicose e causando diabetes, e até leva-lo a morte.
Eco News: Além dos macacos, quais outros animais que você gostaria de estudar? Algum seria aquático?
Liana Lima: Eu entrei na faculdade querendo ou estudar biologia marinha, trabalhar com baleias, ou trabalhar com felinos de grande porte, como onça pintada. Essas são duas áreas bem difíceis de ser estudada porque a onça raramente você vê, e a baleia você raramente vê também. Assim, eu tentei, mandei meu currículo para dois projetos pro “baleia franco” e pro “baleia jubarte” que estavam aqui no Brasil, mas num fui aceita. É aquilo assim, eu até penso em um dia talvez ir para outra área, mas eu sou completamente apaixonada por primatas e que os estudos dos macacos é muito próximo a nós. Eu estudo o comportamento, e da pra perceber que realmente que nós viemos deles, eles são a base do nosso comportamento, e isso é muito interessante pra mim, pro meu estudo. Então, se eu fosse estudar outra coisa eu estudaria felinos de grande porte, da África.
Eco News: Algum animal já morreu na sua mão?
Liana Lima: Mais ou menos, assim, animal selvagem, na minha mão não, mais já aconteceu de eu estar cuidando e eu sair e quando voltar ele está morto.
Eco News: Você já cuidou de um animal desde pequeno?
Liana Lima: Já.Eu já cuidei de uma coruja que chegou pequeninha para a gente quase que não voando e ela se reabilitou, nós soltamos antes do Carnaval. Ela saiu voando e isso foi bastante recompensante.